Qualidade da água Manicoré: estudo da UFAM revela risco à saúde
  • Pesquisa da UFAM identificou coliformes fecais e turbidez elevada em poços de Manicoré-AM, em dezembro de 2023.
  • Poço 6 tem níveis até 8 vezes acima do permitido; risco imediato à saúde pública local.
  • Relatório recomenda interdição dos poços e ações urgentes; palavra-chave: qualidade da água Manicoré.

Uma pesquisa conduzida por pesquisadores da Universidade Federal do Amazonas (UFAM) e publicada na revista científica Scientific Reports revelou que parte da água consumida em Manicoré-AM está contaminada. A análise, feita em dezembro de 2023, avaliou seis poços semi-artesianos na zona urbana e identificou níveis alarmantes de coliformes fecais, cor aparente e turbidez.

Dois poços com contaminação grave

O Poço 6, localizado no bairro Santa Luzia, apresentou:

  • Coliformes totais e fecais, indicadores de contaminação por esgoto doméstico;
  • Cor aparente de 44,2 uH, quase três vezes o limite legal;
  • Turbidez de 47 UNT, superando em oito vezes o valor permitido.

Já o Poço 1, no bairro Manicorezinho, apresentou coliformes totais, sendo também classificado como impróprio para consumo humano.

Qualidade da água Manicoré: estudo da UFAM revela risco à saúde
Estudo apontou que 33% dos poços amostrados apresentam contaminação microbiológica – Fotos: Alan-Crisley/Cosama

Risco sanitário para a população

Esses resultados apontam um risco direto de surtos de doenças transmitidas pela água, como infecções gastrointestinais e bacterianas. Crianças, idosos e pessoas com baixa imunidade estão entre os mais vulneráveis. O consumo de água com turbidez e coloração anormais também pode gerar rejeição ao sistema público e incentivo ao uso de fontes alternativas não monitoradas.

Ações urgentes recomendadas

O relatório técnico propõe medidas imediatas e estruturadas:

Intervenções emergenciais

  • Interditar os Poços 1 e 6 e suspender o fornecimento de água;
  • Instalar sinalização de “água não potável” nas áreas afetadas;
  • Fornecer água segura por meios alternativos à população impactada.

Investigação das causas

  • Analisar proximidade com fossas sépticas e possíveis infiltrações;
  • Verificar integridade estrutural dos poços e da rede de distribuição.

Plano de recuperação e prevenção

Curto prazo (1-3 meses)

  • Instalação de sistemas de cloração e filtração nos poços contaminados;
  • Reposicionamento ou reforma do Poço 6;
  • Correções estruturais nas tubulações e reservatórios.

Médio prazo (3-6 meses)

  • Implementar monitoramento mensal da água dos poços;
  • Parcerias para análises laboratoriais frequentes;
  • Treinamento dos operadores do SISAGUA para controle e manutenção adequados.

Longo prazo (6-12 meses)

  • Rede de esgoto urbana para substituir fossas e proteger o lençol freático;
  • Plano municipal de recursos hídricos e saneamento com gestão participativa;
  • Campanhas educativas sobre tratamento domiciliar da água e prevenção de riscos sanitários.

Comparativo com padrões internacionais

Os pesquisadores destacam que a legislação brasileira é mais permissiva que a europeia em certos parâmetros:

  • Ferro total: 0,3 mg/L no Brasil, contra 0,2 mg/L na UE;
  • Manganês total: 0,1 mg/L no Brasil, frente a 0,05 mg/L na UE.

A adoção de limites mais restritivos é sugerida como medida preventiva e alinhada a melhores práticas internacionais.

Recomendações para autoridades e comunidade

  • Gestores públicos: declarar emergência sanitária e buscar apoio federal e estadual;
  • SISAGUA: adotar ISO 17025 e garantir rastreabilidade e qualidade laboratorial;
  • População: usar filtros, ferver água e participar das decisões sobre saneamento local.

Conclusão

O estudo da UFAM revela uma crise sanitária potencial em Manicoré, com 33% dos poços amostrados apresentando contaminação microbiológica. A resposta rápida e estruturada é essencial para garantir o direito à água potável a mais de 57 mil habitantes e evitar surtos de doenças de veiculação hídrica na região amazônica.

Leia o estudo na íntegra.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *