- Pesquisadores amazônidas apostam no ouriço da castanheira do Brasil para substituir plásticos convencionais a partir de 2025.
- A matéria-prima é abundante na floresta, biodegradável e promete reduzir impactos ambientais do plástico.
- O bioplástico do ouriço já está em fase de testes industriais e busca apoio para produção em escala.
Pesquisadores brasileiros encontraram no ouriço da castanheira uma alternativa promissora ao plástico convencional. A inovação, que nasce no coração da Amazônia, está em fase de testes e promete iniciar uma revolução ambiental e econômica já a partir de 2025.
Como funciona o bioplástico de ouriço
O ouriço é a casca dura e espinhosa que envolve os frutos da Castanheira-do-Brasil (Bertholletia excelsa). Antes descartado como resíduo florestal, ele agora é a matéria-prima central de um projeto de bioplástico 100% vegetal, desenvolvido por pesquisadores da Universidade Federal do Amazonas (UFAM), em parceria com empresas de inovação tecnológica.
Esse material é rico em lignina e celulose, componentes que podem ser processados para formar polímeros naturais. Após ser triturado, o ouriço passa por processos físico-químicos que resultam em um material com resistência mecânica, flexibilidade e capacidade de decomposição em até seis meses.
“Estamos falando de um processo que aproveita os resíduos já disponíveis na floresta, sem exigir grandes alterações nas cadeias produtivas existentes”, afirma Pedro Henrique Campelo Felix, professor da UFAM e pesquisador em biopolímeros.
Impactos ambientais e benefícios locais
O mundo produz mais de 400 milhões de toneladas de plástico por ano, e menos de 10% disso é reciclado. O restante se acumula em aterros, oceanos e florestas. A proposta de bioplástico do ouriço busca romper essa lógica de desperdício e poluição, oferecendo uma alternativa biodegradável e economicamente viável.
Além disso, a cadeia de produção valoriza o conhecimento tradicional e gera renda para comunidades extrativistas da Amazônia, que já colhem castanhas para o consumo humano. Agora, também poderão comercializar os ouriços, antes descartados na mata.
- Redução de resíduos plásticos que levam séculos para se decompor
- Valorização de populações tradicionais e incentivo à bioeconomia local
- Processo sustentável com uso de resíduos não aproveitados comercialmente
“Um pote de iogurte que sai da mão de uma criança e vai para um aterro pode levar 100 anos ou mais para se decompor totalmente. É exatamente neste ponto que podemos apresentar alternativas biodegradáveis ao mercado”, afirma Michele Rigon Spier, doutora em processos biotecnológicos.
O futuro da produção em escala
O projeto já passou por protótipos bem-sucedidos de sacolas, potes e embalagens flexíveis. Segundo os pesquisadores, o próximo passo é captar investimento para construir uma planta piloto de produção em escala industrial.
Empresas do setor alimentício e cosmético demonstraram interesse. O bioplástico amazônico também pode atrair iniciativas internacionais de combate ao plástico e políticas de compras verdes, como as da União Europeia.
“Nosso trabalho com a WTT e o COI é tentar entender se essa resina ‘pára em pé’, se tem aplicabilidade de fato, para então estruturar a cadeia, garantir a viabilidade em termos de volume, demanda e, por fim, viabilidade financeira”, explica Mariana Barrella, diretora de operações da Tutiplast.
Desafios e caminhos regulatórios
Apesar do potencial, o bioplástico de ouriço ainda enfrenta desafios. Entre eles, a regulação sanitária para contato com alimentos e a logística de coleta dos ouriços em áreas remotas da floresta.
Os pesquisadores defendem um marco regulatório específico para bioplásticos de base florestal, com incentivos fiscais e linhas de crédito para empreendedores locais. Também propõem a criação de cooperativas de coleta e processamento em comunidades extrativistas.
“Quando se quer fazer uma solução na Amazônia, é preciso fazer do começo ao fim, olhando para estrutura logística, comunicação, organização social e formação da cadeia produtiva”, avalia Carlos Gabriel Khoury, diretor técnico do Idesam.
Por que isso importa
O uso do ouriço como matéria-prima para bioplástico representa uma virada simbólica e prática no combate ao plástico tradicional. Mostra que soluções inovadoras e sustentáveis podem emergir da floresta, valorizando saberes locais e promovendo justiça ambiental.
Com a aceleração da crise climática e os alertas sobre a poluição por plásticos, alternativas como essa ganham urgência. Se conseguir superar os obstáculos técnicos e regulatórios, o bioplástico do ouriço pode posicionar a Amazônia como referência global em bioeconomia.
Glossário
- Bioplástico: Tipo de plástico feito a partir de fontes vegetais, ao invés de petróleo. É biodegradável e sustentável.
- Ouriço da castanheira: Estrutura espinhosa que protege os frutos da Castanheira-do-Brasil (Bertholletia excelsa). Rica em fibras vegetais.
- Lignina: Substância encontrada nas paredes das células vegetais, responsável pela rigidez da planta.
- Celulose: Principal componente das paredes celulares das plantas, usada na produção de papel e polímeros naturais.
- Bioeconomia: Economia baseada no uso sustentável dos recursos biológicos renováveis.
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