Própolis produzida por abelhas da Amazônia supera pomadas
Foto: Cesar Delgado
  • Pesquisadores da Embrapa e UFPA criaram pomada com própolis produzida por abelhas sem ferrão nativas da Amazônia.
  • O creme superou pomadas comerciais em testes com animais, reduzindo inflamação e acelerando a regeneração da pele.
  • A fórmula aproveita melhor a própolis, gerando até 5g de pomada por grama do insumo natural.
  • O produto está em processo de patente e busca parceiros para produção em escala farmacêutica.

A própolis produzida por abelhas sem ferrão nativas da Amazônia demonstrou ter propriedades cicatrizantes e anti-inflamatórias superiores às pomadas convencionais. A descoberta foi feita por pesquisadores da Embrapa Amazônia Oriental e da Universidade Federal do Pará (UFPA), que desenvolveram um creme à base de própolis da espécie Scaptotrigona aff. postica, conhecida como abelha-canudo. O produto mostrou resultados promissores em testes laboratoriais, com regeneração mais rápida e menos inflamação em feridas.

Própolis amazônica supera pomadas comerciais

O creme cicatrizante foi desenvolvido a partir da própolis coletada em colmeias de abelhas-canudo, criadas em áreas de cultivo de açaí. Em testes com animais, o produto apresentou melhor desempenho que pomadas cicatrizantes disponíveis no mercado.

De acordo com os pesquisadores, o creme:

  • Reduziu significativamente a inflamação nos tecidos
  • Estimulou a formação de colágeno
  • Promoveu regeneração mais eficiente da pele
  • Formou uma camada protetora antimicrobiana

Esses resultados foram descritos no artigo Healing Activity of Propolis of Stingless Bee (Scaptotrigona aff. postica), publicado na revista científica Molecules.

Pesquisa contínua com foco na biodiversidade amazônica

O estudo é parte de um projeto contínuo da Embrapa e da UFPA, que já investigava o papel da abelha-canudo na polinização do açaizeiro. A alta produtividade de própolis dessa espécie levou os cientistas a explorarem novas aplicações do insumo.

Daniel Santiago, engenheiro agrônomo da Embrapa, destaca que a pesquisa buscou transformar o conhecimento em um produto útil ao mercado:

“Começamos a coletar a própolis e, por ser um volume pequeno, pensamos em uma forma de aproveitá-la com maior rendimento. A pomada foi a solução mais viável.”

Segundo Santiago, uma colmeia produz de 80 a 300 gramas de própolis por ano. Com a formulação do creme, é possível obter de 2 a 5 gramas de pomada por grama de própolis, o que amplia o aproveitamento do insumo.

Os testes comparativos com pomadas comerciais mostraram que a pomada de própolis teve efeito cicatrizante igual ou superior, com destaque para a ação anti-inflamatória, ausente nos produtos convencionais.

Tradição indígena e inovação farmacêutica

O uso da própolis na medicina popular não é novidade. Povos indígenas da Amazônia já utilizavam a substância para tratar feridas e infecções. A inovação do estudo está em transformar esse conhecimento tradicional em um produto farmacológico, com base científica validada.

Nilton Akio Muto, professor da UFPA e pesquisador do Centro de Valorização de Compostos Bioativos da Amazônia (CVACBA), explica que os testes foram feitos com três formulações:

  1. Base sem princípio ativo
  2. Pomada com própolis
  3. Pomada cicatrizante comercial

Os resultados microscópicos mostraram que a pomada com própolis formou mais fibras colágenas e teve menor resposta inflamatória.

“O tecido queratinoso foi mais desenvolvido com o uso da pomada de própolis. Ela cria um ‘cascão’ protetor que favorece uma cicatrização mais higiênica, além de ser antimicrobiana.”

Esse efeito protetor é essencial para evitar infecções secundárias, acelerando o fechamento das feridas e reduzindo riscos de complicações.

O que esperar daqui pra frente

Com os resultados positivos, os pesquisadores deram início ao processo de registro de patente da formulação. O próximo passo é encontrar parceiros da indústria farmacêutica ou startups interessados em escalar a produção do creme cicatrizante.

Além dos benefícios terapêuticos, o projeto também fortalece a cadeia produtiva do açaí e da meliponicultura na região amazônica. A criação de abelhas sem ferrão, como a abelha-canudo, contribui para a polinização dirigida e diversificação de produtos da floresta.

O estudo reforça o potencial da biodiversidade amazônica como fonte de inovação em saúde e cosméticos, com aplicações sustentáveis e baseadas em ciência.

Glossário

  • Própolis: Substância resinosa produzida por abelhas a partir de resinas vegetais, com propriedades antimicrobianas, cicatrizantes e anti-inflamatórias.
  • Abelha-canudo (Scaptotrigona aff. postica): Espécie de abelha sem ferrão nativa da Amazônia, produtora de própolis e eficiente na polinização.
  • Meliponicultura: Criação racional de abelhas sem ferrão para fins produtivos e ecológicos.
  • Colágeno: Proteína estrutural essencial para a regeneração de tecidos.
  • Tecido queratinoso: Camada externa da pele composta por queratina, que protege contra agressões externas.

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