• Mudanças no regime de chuvas da Amazônia foram identificadas por cientistas do Reino Unido e Brasil desde 1980.
  • As chuvas aumentaram até 22% na estação úmida e caíram até 13,5% na seca, segundo análise isotópica.
  • Eventos extremos como enchentes e estiagens estão mais frequentes, afetando comunidades e ecossistemas amazônicos.
  • Pesquisadores alertam para impactos globais e reforçam a urgência de ações antes da COP30 em Belém.

Pesquisadores identificaram mudanças drásticas no regime de chuvas da Amazônia nas últimas quatro décadas. O estudo, publicado em 17 de outubro na revista Communications Earth and Environment, foi conduzido por cientistas das Universidades de Leeds e Leicester (Reino Unido) e do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa/MCTI). A análise de isótopos de oxigênio nos anéis de crescimento de árvores revelou um padrão preocupante: estações chuvosas mais úmidas e secas ainda mais secas, intensificando eventos extremos na região.

Estudo revela intensificação do ciclo hidrológico

Os pesquisadores analisaram duas espécies amazônicas: Cedrela odorata (cedro-vermelho) e Macrolobium acaciifolium (arapari). As árvores foram coletadas em áreas de terra firme e várzea, separadas por cerca de 1.000 km na Amazônia Ocidental.

Com base nos isótopos, foi possível reconstruir a variação das chuvas desde 1980. Os dados indicam um aumento de 15% a 22% nas chuvas da estação chuvosa e uma redução de 5,8% a 13,5% na estação seca.

Impactos ambientais e sociais crescentes

Segundo o pesquisador Bruno Cintra, da Universidade de Birmingham, o ciclo hidrológico está se tornando mais extremo. Isso tem agravado enchentes e estiagens, afetando diretamente populações ribeirinhas, indígenas e ecossistemas.

A amplitude anual das enchentes aumentou quase 18% neste século, passando de uma média de 10,02 metros para 11,79 metros. O maior valor já registrado foi de 16,7 metros, segundo dados do Sistema Nacional de Informações sobre Recursos Hídricos (SNIRH).

Metodologia inovadora com isótopos

O uso de isótopos de oxigênio permitiu detectar mudanças sazonais com mais precisão do que registros climáticos tradicionais. “Esses dados fornecem evidências independentes de que o ciclo hidrológico da Amazônia está mudando”, afirma Jessica Baker, da Universidade de Leeds.

Além disso, os cientistas aplicaram modelos isotópicos e análises de sensibilidade para estimar a magnitude das mudanças, considerando variáveis atmosféricas como temperatura e umidade.

Consequências para o clima global

A Floresta Amazônica é um dos principais reguladores climáticos do planeta. Atua como sumidouro de carbono, absorvendo grandes quantidades de CO₂. No entanto, o desmatamento e as queimadas têm reduzido essa capacidade.

“Essas alterações afetam a agricultura, geração de energia, saúde pública e aumentam a mortalidade de árvores e incêndios florestais”, alertam os coautores Roel Brienen e Emanuel Gloor, da Universidade de Leeds.

Urgência climática e COP30

Com a COP30 marcada para novembro em Belém (PA), os autores reforçam a necessidade de ações urgentes. “Compreender essas mudanças é essencial para prever cenários futuros e orientar políticas de conservação e adaptação”, conclui Cintra.