- Jovem pesquisador do Amazonas é premiado na SBPC por estudo sobre manejo do pirarucu no Médio Solimões.
- Tiago Meza, bolsista do Instituto Mamirauá, venceu na categoria Ciências Humanas e Sociais do CNPq.
- O manejo sustentável aumentou em 620% os estoques de pirarucu nas áreas comunitárias desde 1998.
- Como prêmio, Meza recebeu R$ 10 mil e uma bolsa de mestrado para qualquer instituição do país.
O jovem pesquisador do Amazonas Tiago Meza foi premiado no dia 15 de julho durante a 77ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), realizada em Recife (PE). Bolsista do Instituto Mamirauá, Meza recebeu o 22º Prêmio Destaque na Iniciação Científica e Tecnológica, promovido pelo CNPq, por seu projeto sobre o manejo participativo do pirarucu no Médio Solimões.
Amazonas em evidência na ciência nacional
Com o tema “Progresso é Ciência em Todos os Territórios”, a 77ª edição da SBPC reuniu pesquisadores, estudantes e instituições científicas de todo o país. A cerimônia de premiação destacou a diversidade regional da produção científica brasileira.
Entre os premiados, Tiago Meza foi homenageado na categoria Ciências Humanas e Sociais. O reconhecimento reforça a importância da pesquisa desenvolvida na Amazônia e da atuação de instituições como o Instituto Mamirauá.
O presidente do CNPq, Ricardo Galvão, destacou a relevância do trabalho:
“É muito importante esse prêmio ter sido concedido a um bolsista do Amazonas, e inclusive do Instituto Mamirauá. Nós temos que, cada vez mais, homogeneizar o trabalho científico do país.”
O projeto premiado: conservação e economia local
Intitulado “Histórico e Estratégias de Comercialização Envolvidas no Manejo Participativo de Pirarucu (Arapaima gigas) no Médio Solimões”, o projeto de Tiago Meza foi desenvolvido entre setembro de 2023 e agosto de 2024.
O estudo analisou os desafios enfrentados por pescadores locais na comercialização do pirarucu manejado. Entre os principais obstáculos identificados estavam:
- Falta de acesso a mercados formais
- Baixa organização social
- Pressões ambientais
- Desigualdade econômica
A pesquisa concluiu que são necessários investimentos em estratégias comerciais mais justas, capazes de valorizar os saberes tradicionais e melhorar a qualidade de vida das comunidades ribeirinhas.
O trabalho foi orientado pela pesquisadora Rayssa Bernardi Guinato e coorientado por Daniel Brito, ambos do Instituto Mamirauá. A iniciativa integrou o Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica (PIBIC).
Ciência com raízes amazônicas
Tiago Meza é estudante de Administração na Universidade do Estado do Amazonas (UEA), no município de Tefé. Ele já participou de três bolsas de pesquisa no Instituto Mamirauá.
“É uma felicidade imensa estar tendo esse reconhecimento com meu projeto que se relaciona diretamente com os saberes tradicionais da Amazônia.”
O Instituto Mamirauá já beneficiou mais de 500 jovens da região do Médio Solimões com bolsas de iniciação científica. A proposta é incentivar o pensamento crítico e o desenvolvimento de habilidades científicas entre estudantes da região.
Segundo Emiliano Esterci Ramalho, Diretor Técnico Científico do Instituto Mamirauá:
“Um jovem da Amazônia, que está iniciando sua carreira na pesquisa, com uma temática extremamente importante para o Mamirauá e para as comunidades ribeirinhas.”
Como parte do prêmio, Tiago Meza recebeu R$ 10 mil e uma bolsa de mestrado válida para qualquer instituição de ensino superior do país, pública ou privada, mediante processo seletivo.
Manejo sustentável do pirarucu: ciência e tradição
O Manejo Sustentável do Pirarucu é uma estratégia desenvolvida pelo Instituto Mamirauá em parceria com comunidades tradicionais. O objetivo é conservar os estoques da espécie e, ao mesmo tempo, melhorar a renda dos pescadores.
As ações incluem:
- Definição de cotas de pesca
- Respeito ao tamanho mínimo e ao período reprodutivo
- Vigilância comunitária dos lagos
Desde sua implementação em 1998, o manejo resultou em um aumento de 620% nos estoques de pirarucu nas áreas manejadas, além de ganhos econômicos significativos para as comunidades envolvidas.
O projeto de Tiago Meza reforça a importância de políticas públicas que valorizem o conhecimento local e promovam a sustentabilidade econômica e ambiental da Amazônia.
Impactos para a Amazônia
O reconhecimento nacional do trabalho de Tiago Meza mostra que a ciência feita na Amazônia tem potencial para transformar realidades locais e influenciar políticas públicas. A valorização de jovens pesquisadores da região é fundamental para fortalecer a produção científica descentralizada no Brasil.
Além disso, o projeto contribui diretamente para a conservação de uma das espécies mais emblemáticas da região, o pirarucu, e para a autonomia econômica das comunidades ribeirinhas. A união entre pesquisa acadêmica e saberes tradicionais fortalece a governança socioambiental da Amazônia.
Com o apoio de instituições como o CNPq e o Instituto Mamirauá, jovens como Tiago Meza têm a oportunidade de desenvolver soluções inovadoras para os desafios da região, promovendo um modelo de desenvolvimento sustentável e inclusivo.
Glossário
- SBPC: Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência, entidade científica que promove eventos e debates sobre ciência e tecnologia no Brasil.
- CNPq: Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico, agência do governo federal que fomenta a pesquisa científica e tecnológica.
- PIBIC: Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica, voltado ao incentivo de estudantes de graduação na pesquisa científica.
- Pirarucu: Arapaima gigas, um dos maiores peixes de água doce do mundo, nativo da Amazônia.
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