- A Universidade do Estado do Amazonas conduz 15 projetos de monitoramento ambiental que avaliam a qualidade de águas, ar e solos em bacias amazônicas.
- O ProQAS/AM já realizou campanhas nos rios Negro, Madeira e Solimões, analisando 164 parâmetros ambientais conforme diretrizes do Conama.
- Novos estudos planejados abrangem os rios Amazonas, Japurá, Juruá e Purus, além de monitoramento de sedimentos e águas de abastecimento público.
A Universidade do Estado do Amazonas (UEA) mantém atualmente 15 projetos em desenvolvimento voltados ao monitoramento da qualidade ambiental na região amazônica. As iniciativas fazem parte do Programa de Monitoramento da Água, Ar e Solos do Estado do Amazonas (ProQAS/AM), coordenado pelo Grupo de Pesquisa Química Aplicada à Tecnologia (GP-QAT). Os projetos reforçam o compromisso da instituição com o monitoramento contínuo da qualidade ambiental, o apoio técnico à gestão pública e o desenvolvimento de soluções inovadoras.
Os estudos em andamento abrangem diferentes bacias hidrográficas do Amazonas. Entre as áreas prioritárias estão as bacias dos rios Negro, Madeira e Solimões, onde o programa já realizou diversas campanhas de amostragem. As expedições científicas percorrem centenas de quilômetros para coletar amostras de água, sedimentos e peixes, produzindo dados confiáveis sobre a qualidade ambiental.
Expedições revelam impactos ambientais
A terceira campanha do GP-QAT pelo rio Madeira, denominada Iriru 3, percorreu mais de 1.780 quilômetros em agosto de 2025. A expedição analisou água, peixes e sedimentos em municípios como Borba, Manicoré, Humaitá, Nova Olinda do Norte, Urucurituba e Novo Aripuanã. Os pesquisadores utilizaram 164 parâmetros estabelecidos pelo Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama) para identificar a qualidade dos recursos hídricos.
No rio Tarumã-Açu, na zona oeste de Manaus, o programa realiza monitoramento há mais de cinco anos. Em agosto de 2025, uma ação conjunta entre o Instituto de Proteção Ambiental do Amazonas (Ipaam) e a UEA analisou o Índice de Qualidade da Água (IQA). O pesquisador Rafael Lopes explicou que o IQA é uma nota de zero a 100, e valores abaixo de 50 já são sinal de alerta para o uso humano da água.
Em novembro de 2025, a UEA liderou uma expedição científica rumo à COP30, em Belém (PA). A missão monitorou a qualidade das águas dos rios amazônicos entre Manaus e Belém, incluindo oito cidades ao longo do rio Amazonas. As coletas foram realizadas antes e depois das áreas urbanas para comparar o impacto da atividade humana nos recursos hídricos.
Como funciona o ProQAS/AM
O ProQAS/AM é um programa científico e tecnológico que monitora e avalia a qualidade das águas, do ar e dos solos em diferentes regiões do estado. Seu objetivo é produzir informações que apoiam políticas públicas, ações de fiscalização ambiental e iniciativas de sustentabilidade. O programa integra laboratórios especializados e infraestrutura de campo para realizar expedições e campanhas de amostragem.
Em entrevista ao site da UEA, em agosto de 2025, o coordenador do ProQAS/AM, Prof. Dr. Sergio Duvoisin Junior, destacou a robustez da infraestrutura laboratorial instalada pelo GP-QAT. “A infraestrutura é inédita na região e permite análises detalhadas de múltiplos parâmetros ambientais, possibilitando que os resultados sirvam de referência para estudos semelhantes em outras áreas da Amazônia”, afirmou o pesquisador. A estrutura permite acompanhar com precisão alterações químicas e biológicas em ecossistemas e identificar contaminações em diferentes espécies.
Protocolos técnicos internacionais
O programa adota protocolos técnicos reconhecidos internacionalmente e segue as diretrizes das Resoluções Conama nº 357/2005 e nº 274/2000. Essa padronização garante rastreabilidade, comparabilidade e confiabilidade dos resultados. Os parâmetros analisados incluem coliformes, pH, oxigênio dissolvido, turbidez, fósforo, metais, mercúrio e metilmercúrio.
A engenheira ambiental e doutoranda Silvana Silva, responsável pela análise de metais do ProQAS/AM, ressalta a importância de compreender a distribuição dos elementos químicos no ambiente. “O monitoramento contínuo permite identificar padrões de contaminação ao longo do rio, oferecendo subsídios para que ações preventivas e educativas sejam planejadas junto às comunidades”, explicou. A abordagem é fundamental para minimizar impactos na saúde humana e na preservação dos ecossistemas locais.
Equipe multidisciplinar e formação de profissionais
O ProQAS/AM é coordenado por doutores e conta com uma equipe multidisciplinar formada por profissionais graduados, alunos de mestrado e doutorado. As áreas de atuação incluem Engenharia Florestal, Química, Biologia e Matemática. Essa diversidade contribui para análises técnicas e precisas, fundamentais para a preservação dos recursos naturais do Amazonas.
A formação de profissionais qualificados nas áreas de meio ambiente e tecnologia é um dos pilares do programa. O GP-QAT foi criado em 2008 na UEA com o propósito de integrar o conhecimento químico às demandas tecnológicas e ambientais da Amazônia. Desde então, o grupo capacita pesquisadores e técnicos para atuar no monitoramento e na gestão ambiental.
Expansão para novas bacias hidrográficas
O programa busca ampliar ainda mais sua atuação com estudos em fase de captação de recursos. As novas iniciativas abrangem os rios Amazonas, Japurá, Juruá e Purus. Em março de 2025, durante entrevista ao Ipaam sobre uma nova expedição científica no rio Solimões, o coordenador Sergio Duvoisin Junior explicou os desafios de monitorar bacias tão extensas. “O Rio Solimões é tão grande que depois a gente precisa de uma perna até Tefé, Tabatinga. Nós temos bacias, por exemplo, do Purus, do Juruá, que nós não temos recursos ainda para fazer”, revelou.
Além dos rios, o programa planeja iniciativas voltadas ao monitoramento de sedimentos, solos e águas de abastecimento público. Essas ações visam ampliar o conhecimento sobre os ecossistemas amazônicos e subsidiar políticas públicas mais eficientes. Os resultados das expedições já realizadas fornecem subsídios técnicos para a criação de alternativas econômicas sustentáveis para comunidades ribeirinhas.
Parcerias institucionais estratégicas
O ProQAS/AM é desenvolvido pela UEA em parceria com o Instituto de Proteção Ambiental do Amazonas (Ipaam) e o Grupo Atem. O monitoramento no rio Tarumã-Açu subsidia a construção do Plano de Gestão da Bacia Hidrográfica do Tarumã-Açu, desenvolvido pelo Ipaam em parceria com a Secretaria de Estado do Meio Ambiente (Sema), a UEA e o Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio Tarumã-Açu (CBHTA).
Os resultados das análises são encaminhados pelo diretor-presidente do Ipaam aos órgãos de controle ambiental, de Justiça, à Prefeitura de Manaus, à Assembleia Legislativa do Amazonas (ALE-AM) e ao CBHTA. Essa articulação entre instituições garante que os dados produzidos sejam utilizados na formulação de políticas públicas e ações de fiscalização.
Impactos para a Amazônia
Consolidado como uma referência científica regional, o ProQAS/AM fortalece a gestão integrada dos recursos naturais. O programa amplia o conhecimento sobre os ecossistemas amazônicos e reafirma o compromisso da UEA com a preservação ambiental e o desenvolvimento sustentável do estado do Amazonas. Os dados gerados contribuem para o desenvolvimento de indicadores e metodologias adequados à realidade dos ecossistemas amazônicos.
As análises identificam contaminações, padrões de poluição e alterações químicas que possam indicar riscos ambientais e à saúde. O monitoramento contínuo permite que ações preventivas sejam implementadas antes que os impactos se tornem irreversíveis. A abordagem científica rigorosa garante que as comunidades ribeirinhas e as cadeias produtivas baseadas em biotecnologia e bioeconomia sejam beneficiadas.
Glossário
- IQA (Índice de Qualidade da Água): Nota de zero a 100 que avalia a condição da água com base em nove parâmetros físicos, químicos e biológicos.
- Conama (Conselho Nacional do Meio Ambiente): Órgão responsável por estabelecer normas e padrões para o controle e a preservação ambiental no Brasil.
- ProQAS/AM: Programa de Monitoramento da Água, Ar e Solos do Estado do Amazonas, desenvolvido pela UEA.
- GP-QAT: Grupo de Pesquisa Química Aplicada à Tecnologia da Universidade do Estado do Amazonas.
