Inventário dos invertebrados aquáticos revela Amazônia oculta
Foto: Acervo Lacia/Inpa
  • O Inpa iniciou, em 2025, um inventário dos invertebrados aquáticos em áreas de altitude da Amazônia.
  • A ação visa preencher lacunas científicas sobre biodiversidade em regiões acima de 500 metros, como São Gabriel da Cachoeira.
  • O projeto já promoveu oficinas educativas e produziu um livro infantil bilíngue sobre insetos aquáticos.
  • Espera-se o mapeamento de espécies desconhecidas e a criação de políticas de conservação baseadas em dados inéditos.

O Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa/MCTI) iniciou um projeto para realizar um inventário dos invertebrados aquáticos em áreas de altitude da Amazônia. A iniciativa faz parte do projeto “AquaInvert-Amazônia”, que une ciência e saberes tradicionais para mapear a biodiversidade desses organismos em regiões acima de 500 metros de altitude. O foco principal está no município de São Gabriel da Cachoeira (AM), a 852 km de Manaus. A ação é coordenada pela pesquisadora Neusa Hamada, do Laboratório de Citotaxonomia e Insetos Aquáticos do Inpa, e conta com o apoio da iniciativa Amazônia +10.

Inventário de invertebrados aquáticos na Amazônia

O projeto “AquaInvert-Amazônia” tem como objetivo principal preencher lacunas de conhecimento científico sobre a fauna de invertebrados aquáticos em áreas elevadas da Amazônia. Essas regiões, pouco acessíveis e com dados escassos, são consideradas prioritárias para estudos de biodiversidade.

Segundo a coordenadora Neusa Hamada, o projeto irá:

  • Catalogar a diversidade de invertebrados aquáticos
  • Analisar a relação desses organismos com variáveis ambientais
  • Projetar cenários de distribuição futura
  • Promover ações de educação científica nas comunidades locais

Com mais de 30 anos de experiência em pesquisa e divulgação científica, Hamada destaca que a integração entre ciência acadêmica e saberes indígenas é um dos pilares da iniciativa.

Expedição a São Gabriel da Cachoeira

Entre os dias 31 de maio e 7 de junho de 2025, uma equipe de cientistas visitou São Gabriel da Cachoeira como parte das atividades do projeto. A viagem teve como foco apresentar os objetivos da pesquisa às comunidades indígenas da Serra Curicuriari (também chamada de Bela Adormecida) e da região do Morro dos Seis Lagos.

Durante a expedição, foram realizadas:

  • Oficinas educativas sobre insetos aquáticos
  • Atividades lúdicas com crianças e moradores
  • Diálogo entre saberes científicos e tradicionais

As comunidades envolvidas foram:

  • Curicuriari
  • São Jorge (Bela Adormecida)
  • Ya-Mirim (Morro dos Seis Lagos)

“A proposta foi submetida à Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai) para a obtenção da licença necessária à coleta biológica. Após essa etapa, a expedição à serra da Bela Adormecida será realizada com a colaboração de membros das comunidades indígenas São Jorge e Curicuriari”, disse Hamada.

Outro destaque da ação é a produção de um livro infantil sobre insetos aquáticos, que está sendo traduzido para os idiomas indígenas Nheengatu e Tukano. A iniciativa é feita em parceria com professores indígenas e será distribuída em formato PDF e, posteriormente, em versão impressa.

Rede de apoio e financiamento

O projeto AquaInvert-Amazônia é desenvolvido no âmbito da iniciativa “Amazônia +10” e conta com a participação de pesquisadores de cinco estados brasileiros: Amazonas, Pará, Roraima, São Paulo e Goiás.

As instituições financiadoras incluem:

  • Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq)
  • Fundação de Amparo à Pesquisa do Amazonas (Fapeam)
  • Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Pará (Fapespa)
  • Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Roraima (Faperr)
  • Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp)
  • Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Goiás (Fapeg)

A logística da expedição contou com o suporte do Exército Brasileiro, por meio do Comando Militar da Amazônia (CMM), incluindo a 2ª Brigada de Infantaria de Selva e o 5º Batalhão de Infantaria de Selva.

Também colaboraram com as ações:

  • Federação das Organizações Indígenas do Rio Negro (Foirn)
  • Coordenadoria das Associações Indígenas do Médio e Baixo Rio Negro (CAIMBRN)
  • Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio)

Impactos para a Amazônia

O projeto AquaInvert-Amazônia representa um avanço significativo na pesquisa científica sobre biodiversidade aquática em áreas de altitude na floresta amazônica. Além de gerar dados inéditos, a iniciativa fortalece a cooperação entre ciência e saberes indígenas, promovendo inclusão e valorização cultural.

Entre os impactos esperados estão:

  • Mapeamento de espécies ainda desconhecidas
  • Criação de políticas de conservação baseadas em dados científicos
  • Formação de jovens indígenas como multiplicadores do conhecimento
  • Popularização da ciência em comunidades remotas

Ao incluir a participação ativa das comunidades locais, o projeto também contribui para a educação ambiental e o fortalecimento do protagonismo indígena na preservação da Amazônia.

O que esperar daqui pra frente

Nos próximos meses, a equipe do Inpa pretende intensificar as expedições às áreas de altitude da Amazônia, incluindo a tão aguardada visita à Serra da Bela Adormecida. A expectativa é ampliar o inventário das espécies, consolidar parcerias com as comunidades e disponibilizar os primeiros resultados em publicações científicas e materiais educativos.

Com o apoio contínuo de instituições de pesquisa e organizações indígenas, o AquaInvert-Amazônia se consolida como um exemplo de ciência colaborativa e inclusiva, essencial para a conservação da maior floresta tropical do planeta.

Glossário

  • Inpa: Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia.
  • Invertebrados aquáticos: Animais sem coluna vertebral que vivem em ambientes aquáticos, como insetos, moluscos e crustáceos.
  • Amazônia +10: Iniciativa que reúne instituições de pesquisa para fomentar ciência e inovação na Amazônia Legal.
  • Funai: Fundação Nacional dos Povos Indígenas, responsável por políticas públicas voltadas aos povos originários.
  • ICMBio: Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade, órgão federal de preservação ambiental.

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