Peixe-boi amazônico: IA identifica áreas críticas para conservação
Foto: Divulgação
  • Estudo do Instituto Mamirauá com IA identificou áreas de reprodução de peixes-boi na Amazônia com 98% de precisão.
  • Tecnologia acústica acessível revela vocalizações e presença de filhotes em áreas remotas da várzea amazônica.
  • O método escalável é uma revolução na conservação do peixe-boi amazônico, espécie vulnerável e difícil de observar.

Pesquisadores do Instituto Mamirauá e da Universidade Politécnica da Catalunha aplicaram inteligência artificial para monitorar o peixe-boi amazônico, uma espécie vulnerável e difícil de observar. O estudo utilizou tecnologia acústica passiva em áreas alagadas da várzea amazônica, com o objetivo de identificar zonas prioritárias para conservação.

IA detecta vocalizações com 98% de precisão

Por meio de gravações subaquáticas e algoritmos de aprendizado profundo, o sistema analisou 226 dias de sons. Os peixes-boi vocalizaram em 94% dos dias monitorados, permitindo identificar padrões e comportamentos da espécie.

A precisão na identificação das vocalizações chegou a 98%, validando o potencial do uso da inteligência artificial em estudos de fauna aquática.

Presença de filhotes indica áreas de reprodução

As análises revelaram sons característicos de filhotes, sugerindo que as áreas monitoradas são importantes para a reprodução e cuidado parental. Uma dessas regiões é a Reserva Mamirauá, conhecida por sua biodiversidade e importância ecológica.

Essas informações são cruciais para direcionar ações de proteção, monitoramento e políticas públicas focadas na recuperação da população da espécie.

Pesquisadora durante trabalho de campo (Foto: Divulgação Instituto Mamirauá/Bruno Kelly)

Espécie ameaçada e difícil de observar

O peixe-boi amazônico (Trichechus inunguis) é o único sirênio exclusivamente de água doce e está classificado como vulnerável à extinção. A espécie enfrenta ameaças como caça ilegal, degradação de habitat e mudanças climáticas.

Seu comportamento subaquático e a turbidez dos rios tornam o monitoramento visual extremamente limitado. Por isso, métodos acústicos têm se mostrado uma alternativa eficaz.

Baixo custo e alta escalabilidade

O equipamento usado no projeto é de baixo custo e pode ser instalado em regiões remotas sem acesso humano. Essa escalabilidade permite ampliar a cobertura de monitoramento sem necessidade de intervenção física frequente.

  • Não invasivo: não interfere no ambiente natural dos animais.
  • Automatizado: a IA analisa os dados em tempo real ou por lotes.
  • Replicável: pode ser adaptado para outras espécies e biomas.

Projeto Providence e parcerias internacionais

A pesquisa integra o Projeto Providence, que desenvolve tecnologias para conservação de espécies aquáticas na Amazônia. O trabalho foi financiado por instituições como a Fundação Sense of Silence, a Fundação Gordon e Betty Moore, o Instituto Rolex e a Fundação Príncipe Albert II de Mônaco.

Essas parcerias garantiram recursos para a coleta de dados, desenvolvimento dos algoritmos e capacitação das equipes envolvidas.

Próximas etapas da pesquisa

Os pesquisadores pretendem expandir o uso da tecnologia para outras regiões da Amazônia e ao longo de diferentes estações do ano, buscando padrões reprodutivos mais amplos e sazonalidades comportamentais.

Também está em estudo a integração dos dados acústicos com dados ambientais e climáticos para uma abordagem mais abrangente da ecologia do peixe-boi.

O método já é considerado um avanço estratégico para a conservação marinha na Amazônia, com potencial de aplicação global em outras espécies ameaçadas.