Tecnologia registra alta intensidade de Poeira do Saara na Amazônia
  • O ATTO detectou poeira do Saara na Amazônia entre janeiro e março de 2025, com três eventos intensos.
  • As partículas PM2.5 chegaram a 20 μg/m³, até cinco vezes acima da média da estação chuvosa.
  • Essas partículas transportam fósforo e potássio, contribuindo para a fertilidade do solo amazônico.
  • A poeira do Saara na Amazônia pode alterar o clima, o regime de chuvas e a qualidade do ar na região.

Uma tecnologia instalada no meio da floresta amazônica registrou alta intensidade de poeira do deserto do Saara na Amazônia durante o primeiro trimestre de 2025. O fenômeno foi monitorado pelo Observatório da Torre Alta da Amazônia (ATTO), que identificou três eventos com concentrações elevadas de partículas minerais transportadas por ventos intercontinentais. A estrutura, com 325 metros de altura, opera 24 horas por dia e é um dos principais centros de pesquisa atmosférica da região.

Monitoramento revela picos de poeira do Saara na floresta

Entre janeiro e março de 2025, o ATTO registrou três episódios de alta concentração de partículas PM2.5. Esses picos ocorreram nos períodos de:

  • 13 a 18 de janeiro
  • 31 de janeiro a 3 de fevereiro
  • 26 de fevereiro a 3 de março

As concentrações variaram entre 15 e 20 μg/m³, valores de 4 a 5 vezes superiores à média registrada na estação chuvosa da Amazônia, que gira em torno de 4 μg/m³.

Esse tipo de transporte de poeira é comum entre dezembro e março, quando a Zona de Convergência Intertropical se posiciona mais ao sul, facilitando o deslocamento das partículas do Saara para a América do Sul.

Como a tecnologia do ATTO detecta a poeira do Saara

O ATTO é um projeto do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), coordenado pelo Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA) em cooperação com o Instituto Max Planck, da Alemanha.

Com sensores instalados em diferentes altitudes, a torre coleta dados da atmosfera desde o solo até a troposfera livre, entre 2 km e 5 km de altura. As partículas do Saara são levantadas por tempestades de areia e transportadas por ventos até essas altitudes. A depender das condições meteorológicas, elas podem viajar por mais de 5 mil quilômetros até alcançar a floresta amazônica.

O tempo médio de transporte varia entre 7 e 14 dias. Durante esse percurso, as partículas atravessam o Oceano Atlântico e, em certos períodos do ano, também alcançam o Caribe e até a América do Norte.

O que a ciência já sabe sobre os efeitos da poeira

Ainda não há consenso sobre todos os impactos da poeira do Saara na Amazônia. No entanto, estudos já indicam que essas partículas têm papel importante na fertilidade do solo.

Elas carregam minerais como fósforo e potássio, essenciais para o crescimento das plantas. Esse aporte ajuda a compensar a perda de nutrientes provocada pelas chuvas intensas e inundações típicas da região.

“O que já se sabe é que o potássio e o fósforo da poeira mineral contribuem, no longo prazo, para a manutenção da fertilidade do solo, que em geral é muito pobre”, afirma Carlos Alberto Quesada, pesquisador do INPA e coordenador do ATTO no Brasil.

Além disso, um estudo publicado em 2024 aponta que a poeira pode ser fonte de ferro para microrganismos marinhos, alimentando florações de fitoplâncton no oceano durante o trajeto transatlântico.

Impactos para a Amazônia

A presença constante de partículas do Saara na Amazônia levanta novas questões sobre a interação entre a floresta e a atmosfera. A atuação do ATTO é estratégica para compreender como esses elementos influenciam o clima, a biodiversidade e a saúde ambiental da maior floresta tropical do planeta.

Entre os possíveis impactos ambientais e sociais estão:

  • Alterações na qualidade do ar, com efeitos respiratórios em populações locais;
  • Modificações no ciclo de nutrientes da floresta, com implicações para a vegetação;
  • Influência no regime de chuvas, por mudanças na formação de nuvens;
  • Conexões climáticas globais, afetando padrões meteorológicos em outros continentes.

Com a intensificação do monitoramento, os cientistas esperam entender melhor como essas partículas interagem com os ecossistemas amazônicos e com os processos atmosféricos globais.

Glossário

  • ATTO: Observatório da Torre Alta da Amazônia, centro de pesquisa atmosférica instalado na floresta amazônica.
  • PM2.5: Partículas inaláveis com diâmetro inferior a 2,5 micrômetros, nocivas à saúde humana.
  • Zona de Convergência Intertropical: Faixa de baixa pressão atmosférica onde convergem os ventos alísios, influenciando o clima tropical.
  • Fitoplâncton: Microrganismos aquáticos que realizam fotossíntese e são base da cadeia alimentar marinha.

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