- Amazonas inicia em novembro de 2025 a fase piloto do aplicativo Guia Obstétrico para reduzir mortalidade materna.
- Estado foi escolhido por ter taxa de mortes maternas superior a 75 por 100 mil nascidos vivos.
- O projeto inclui capacitação de profissionais e uso do app em áreas remotas e populações vulneráveis.
- Na Bahia, iniciativa semelhante reduziu em 69% os óbitos maternos, reforçando o potencial do aplicativo Guia Obstétrico.
O Amazonas integra um projeto nacional que pretende reduzir a mortalidade materna. A escolha do estado se deu por critérios técnicos, como a alta taxa de óbitos maternos, que ultrapassa o dobro da meta dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS).
Trata-se do aplicativo Guia Obstétrico, uma iniciativa do Hospital Israelita Albert Einstein em parceria com o programa global MSD para Mães. O Amazonas foi um dos cinco estados brasileiros escolhidos para participar da fase piloto com início previsto para novembro de 2025. A proposta visa reduzir a mortalidade materna por meio de uma ferramenta digital gratuita voltada a profissionais de saúde, gestantes e puérperas.
O estado foi selecionado por meio de edital público, que considerou fatores como:
- Razão de mortalidade materna acima de 75 por 100 mil nascidos vivos
- Alta incidência de óbitos evitáveis
- Interesse da Secretaria de Estado da Saúde do Amazonas (SES-AM)
O cronograma da fase piloto no Amazonas terá duração de sete meses e incluirá:
- Encontro presencial com facilitadores das secretarias estadual e municipais
- Seis sessões virtuais mensais com foco prático no uso do aplicativo
- Mentoria de projetos voltados à prevenção de complicações como hemorragias e pré-eclâmpsia
Durante esse período, profissionais da saúde e pacientes terão acesso à versão inicial do aplicativo, que reúne conteúdos científicos sobre temas como:
- Sinais de alerta obstétricos
- Diabetes gestacional
- Depressão pós-parto
- Cuidados com gestantes LGBTQIAPN+
Além de oferecer suporte à tomada de decisão clínica, o aplicativo também será usado como ferramenta de capacitação para as equipes de saúde locais, inclusive em municípios de difícil acesso.
Guia Obstétrico: tecnologia a favor da vida materna
O Guia Obstétrico é um recurso digital gratuito, disponível para download nas versões iOS e Android. Desenvolvido com base em evidências científicas e diretrizes atualizadas, o aplicativo oferece:
- Score de alerta obstétrico
- Estratificação de risco para hemorragia e pré-eclâmpsia
- Identificação de sintomas críticos
- Informações educativas para redes de apoio
O aplicativo integra o projeto Todas as Mães Importam, que desde 2015 atua na redução da morbimortalidade materna em diversas regiões do Brasil. A iniciativa é liderada pelo Einstein com apoio da MSD para Mães, uma aliança global que já investiu mais de 650 milhões de dólares em programas voltados à saúde materna em todo o mundo.
Por que a mortalidade materna ainda é um desafio no Brasil?
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), 52% das mortes maternas são causadas por fatores evitáveis, como:
- Hemorragias
- Sepse (infecção generalizada)
- Distúrbios hipertensivos como pré-eclâmpsia
O Brasil estabeleceu, por meio dos ODS, a meta de reduzir a razão de mortalidade materna para 30 óbitos por 100 mil nascidos vivos até 2030. No entanto, o país ainda enfrenta desafios significativos:
- Em 2024, foram registradas 43.196 mortes maternas entre mulheres de 10 a 49 anos
- Esse número representa uma queda de 35% em relação a 2023 (66.422 óbitos)
- Apesar da redução, cerca de 90% das mortes são consideradas evitáveis
No Amazonas, a situação é ainda mais crítica. A média de mortes maternas nos últimos quatro anos ultrapassa 75 por 100 mil nascidos vivos, mais que o dobro da meta nacional. Isso reforça a importância de ações como o Guia Obstétrico para transformar esse cenário.
Histórico de impacto: o sucesso do projeto na Bahia
O projeto Todas as Mães Importam já demonstrou resultados expressivos em outras regiões. Na Bahia, por exemplo, a parceria com a rede pública de saúde resultou em:
- 69% de redução na razão de mortes maternas
- Capacitação de profissionais em maternidades e unidades de atenção primária
- Compartilhamento de boas práticas assistenciais
Outro exemplo é o projeto Melhoria Rápida em Saúde Materna, que promoveu ações educativas e técnicas em diversas regiões para prevenir complicações como hemorragia pós-parto e sepse.
O aplicativo Guia Obstétrico representa a fase mais recente dessas iniciativas e será testado inicialmente nos estados de Sergipe, Amazonas, Pará, Goiás e Paraná. A ideia é avaliar sua eficácia antes de uma eventual expansão nacional.
Impactos para a Amazônia
A implementação do Guia Obstétrico no Amazonas pode representar um marco na saúde pública da região. Com a combinação de tecnologia, capacitação e foco em populações vulneráveis, o projeto tem potencial para:
- Reduzir significativamente os índices de mortalidade materna
- Melhorar a qualidade do atendimento em áreas remotas
- Fortalecer a atuação das equipes locais de saúde
- Promover equidade no cuidado com gestantes LGBTQIAPN+
Além disso, a iniciativa reconhece os desafios logísticos da região amazônica e propõe soluções adaptadas à realidade local, com ações presenciais e virtuais, ampliando o alcance do projeto.
Glossário
- Mortalidade materna: Morte de uma mulher durante a gestação ou até 42 dias após o parto, por causas relacionadas à gravidez.
- Pré-eclâmpsia: Complicação da gravidez caracterizada por pressão alta e sinais de danos em órgãos.
- Puérpera: Mulher no período pós-parto, geralmente até 42 dias após o nascimento.
- MSD para Mães: Iniciativa global da farmacêutica MSD para reduzir mortes maternas evitáveis.
- ODS: Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU, com metas globais até 2030.
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