Monitoramento ambiental avança com satélites e IA no Brasil
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  • Brasil lidera monitoramento ambiental com satélites e inteligência artificial desde os anos 1970, diz pesquisador do IPAM.
  • MapBiomas e PRODES são exemplos de uso avançado dessa tecnologia.
  • A inteligência artificial amplia fiscalização e políticas ambientais no país.

O Brasil é pioneiro na utilização de satélites e inteligência artificial para monitoramento ambiental desde a década de 1970, afirma o pesquisador Dhemerson Conciani, do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (IPAM). O artigo, originalmente publicado no site Jota, detalha como o país evoluiu do uso inicial de radares aerotransportados até os recentes avanços tecnológicos que permitem fiscalizar o território nacional em tempo real.

Início do monitoramento no Brasil

O monitoramento ambiental brasileiro começou nos anos 1970 com os projetos Radar na Amazônia (Radam) e RadamBrasil. Esses projetos utilizaram radares instalados em aeronaves, mobilizando centenas de técnicos e pesquisadores que levaram cerca de 15 anos para concluir o primeiro mapeamento dos recursos naturais e diversidade do país.

Na década seguinte, os satélites ópticos, como a constelação Landsat, proporcionaram um grande avanço. Contudo, havia um entrave significativo: os dados não eram públicos, limitando seu uso generalizado até meados dos anos 2000.

INPE e a revolução dos dados abertos

A mudança radical aconteceu com a atuação decisiva do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), que tornou gratuitas as imagens de satélite. Essa política de dados abertos gerou uma explosão mundial no uso do sensoriamento remoto.

Com os dados abertos, surgiu o Projeto de Monitoramento do Desmatamento na Amazônia Legal por Satélite (PRODES), desenvolvido pelo INPE. A iniciativa, que utiliza analistas humanos para interpretar imagens, permitiu a criação de relatórios anuais sobre desmatamento e degradação florestal na Amazônia.

Inteligência artificial transforma monitoramento

Paralelamente ao avanço tecnológico dos satélites, matemáticos e cientistas da computação avançavam com estudos pioneiros na área da inteligência artificial. Desde os anos 1970, estes profissionais testavam novas abordagens que, posteriormente, foram cruciais para o monitoramento ambiental.

Com o acesso livre aos dados de satélite nos anos 2000, a comunidade científica resolveu unir o conhecimento de analistas humanos aos avanços recentes em machine learning (aprendizado de máquina). O resultado foi imediato: os algoritmos passaram a interpretar as imagens de forma rápida e precisa, reduzindo significativamente o tempo gasto na produção de novos mapas ambientais.

Monitoramento ambiental avança com satélites e IA no Brasil
Pesquisador Dhemerson Conciani, do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (IPAM). (Reprodução/Linkedin).

Acesso à computação em nuvem acelera pesquisas

Mesmo com os avanços técnicos, o volume gigantesco de dados era um entrave. O Brasil ainda não dispunha de infraestrutura computacional suficiente para processar imagens de todo o território. Na década de 2010, plataformas como o Google Earth Engine e o Brazil Data Cube revolucionaram o cenário, oferecendo processamento em nuvem sem necessidade de equipamentos locais.

Desde então, projetos como o Sistema de Alerta de Desmatamento (SAD Cerrado), liderado pelo IPAM, começaram a produzir alertas mensais sobre queimadas e desmatamentos. Essas plataformas permitiram ampliar drasticamente a escala e a velocidade do monitoramento ambiental no país.

MapBiomas e a cooperação científica

Outro marco nesse avanço tecnológico é o projeto MapBiomas, uma rede colaborativa fundada em 2015 por universidades, ONGs e startups, com participação ativa do IPAM. O MapBiomas produz mapas anuais detalhados sobre uso e cobertura do solo e também gera relatórios mensais sobre áreas queimadas e recursos hídricos, abrangendo todo o Brasil.

A precisão e rapidez dessas informações permitiram o desenvolvimento de novos instrumentos legais, como o embargo remoto, que utiliza imagens de satélite para detectar áreas desmatadas ilegalmente. A iniciativa, implementada pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), aumentou a eficiência e reduziu custos da fiscalização ambiental.

Nova fronteira tecnológica

Segundo Conciani, estamos entrando em uma nova fase disruptiva do monitoramento ambiental. Novos satélites hiper espectrais, capazes de captar mais detalhes e informações ambientais do que nunca, serão lançados em breve. Além disso, avanços em inteligência artificial prometem tornar acessível para qualquer usuário análises até então restritas a especialistas.

Por que isso importa

A tecnologia de monitoramento ambiental com inteligência artificial tem papel crucial na preservação dos biomas brasileiros, especialmente na Amazônia. A rapidez e precisão dos dados permitem ações mais rápidas e eficazes contra crimes ambientais, além de viabilizar políticas públicas ambientais melhor estruturadas e fiscalizadas em tempo real.

A liderança tecnológica do Brasil nesse campo posiciona o país na vanguarda mundial da sustentabilidade, influenciando práticas ambientais globalmente e oferecendo ferramentas fundamentais para a proteção e conservação ambiental em escala inédita.

Glossário

  • RadamBrasil: Projeto pioneiro que utilizou radares para mapear recursos naturais no Brasil.
  • INPE: Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, responsável pela política de dados abertos de imagens de satélites no país.
  • Machine learning: Ramo da inteligência artificial que usa algoritmos para aprendizado automático com base em dados.
  • PRODES: Projeto do INPE que monitora o desmatamento anual na Amazônia.
  • Satélite hiper espectral: Satélite capaz de captar um grande número de bandas espectrais, permitindo análises detalhadas da superfície terrestre.

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