- Pesquisadores da Ufam identificaram 200 espécies de diatomáceas no rio Uaicurapá, em Parintins, ao longo de um ano.
- A diversidade foi maior em áreas com pouca interferência humana, indicando boa qualidade da água.
- O estudo revelou uma nova espécie e registrou uma rara, reforçando o valor científico da região.
- As diatomáceas no rio Uaicurapá ajudam a prever impactos ambientais e orientar políticas de conservação.
Pesquisadores da Universidade Federal do Amazonas (Ufam) identificaram cerca de 200 espécies de diatomáceas no rio Uaicurapá, localizado no município de Parintins, a 369 km de Manaus. O levantamento, conduzido ao longo de um ano, avaliou os impactos das atividades humanas na qualidade da água e na saúde ecológica do rio. A pesquisa foi financiada pelo Governo do Amazonas, por meio da Fapeam (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas).
Diatomáceas como bioindicadoras da qualidade da água
O estudo, apoiado pelo Programa de Apoio à Interiorização em Pesquisa e Inovação Tecnológica no Amazonas (Painter), analisou quatro pontos distintos do rio Uaicurapá, abrangendo desde áreas com pouca ocupação humana até regiões com maior atividade antrópica. A coordenadora da pesquisa, Dra. Angela Maria da Silva Lehmkuhl, do Instituto de Ciências Sociais, Educação e Zootecnia (ICSEZ/Ufam), destacou a importância das diatomáceas como bioindicadoras.
As diatomáceas são microalgas eucarióticas fotossintetizantes com parede celular rica em sílica. Por responderem rapidamente às mudanças ambientais, são usadas para monitorar a presença de nutrientes e poluentes em ambientes aquáticos.
- 200 espécies identificadas, incluindo endêmicas e indicadoras de água limpa.
- Uma espécie rara foi registrada: Actinella gessneri.
- Uma nova espécie foi descrita: Actinella cordiformis.
Metodologia inclui coletas sazonais e análises laboratoriais
A pesquisa foi realizada em quatro fases do ciclo hidrológico do rio: enchente, cheia, vazante e seca. A equipe coletou amostras planctônicas (livres na água) com rede cônica de 25 micrômetros e perifíticas (aderidas a plantas) diretamente de vegetações submersas.
Para garantir precisão, os pesquisadores utilizaram:
- Sonda multiparâmetros para medir temperatura, pH, oxigênio e turbidez.
- Aparelhos portáteis para aferir profundidade e transparência da água.
- Análises laboratoriais para quantificar amônia, nitrato, nitrito e ortofosfato.
As identificações das espécies foram feitas por meio de microscopia de luz e microscopia eletrônica de varredura, permitindo detalhamento morfológico das microalgas.
Resultados apontam influência da atividade humana
A diversidade de diatomáceas variou conforme a estação e o local de coleta. A riqueza de espécies foi maior em áreas com menor interferência humana. Em contrapartida, nos pontos com maior atividade antrópica, algumas espécies desapareceram ou se tornaram escassas.
Essas variações indicam que a composição das comunidades de diatomáceas pode ser usada para prever alterações ambientais, como períodos de seca e mudanças climáticas.
Fapeam viabiliza estrutura inédita no Amazonas
Com o apoio financeiro da Fapeam, foi possível adquirir equipamentos essenciais para a pesquisa e criar o primeiro laboratório de Ficologia do Amazonas, sediado no campus da Ufam em Parintins. A estrutura fortalece a capacidade de pesquisa na região e incentiva a formação de novos cientistas.
O investimento integra a estratégia do Painter, programa que estimula a interiorização da ciência e tecnologia no estado, com foco em áreas como bioeconomia e sustentabilidade.
Impactos para a Amazônia
A pesquisa reforça o papel estratégico da ciência na conservação dos recursos hídricos amazônicos. O uso de diatomáceas como bioindicadores permite monitorar, com precisão, os efeitos da ocupação humana e das mudanças climáticas nos rios da região.
Além disso, os dados coletados contribuem para a formulação de políticas públicas voltadas à gestão ambiental e preservação da biodiversidade.
O estudo também integra o Portfólio de Investimentos e Resultados de Pesquisas do Amazonas – Vol.03, que reúne 50 projetos científicos apoiados pelo governo estadual.
Glossário
- Diatomáceas: Microalgas unicelulares com parede celular de sílica, usadas como bioindicadores ambientais.
- Bioindicadores: Organismos que indicam a qualidade ambiental de um ecossistema.
- Painter: Programa de Apoio à Interiorização em Pesquisa e Inovação Tecnológica no Amazonas.
- ICSEZ: Instituto de Ciências Sociais, Educação e Zootecnia da Ufam.