O pirarucu de manejo sustentável foi certificado como produto orgânico pelo MAPA em junho de 2025, após quase dez anos de mobilização liderada pela OPAN e pelo Coletivo do Pirarucu, entre outras entidades.
Com até 3 metros de comprimento e nome científico Arapaima gigas, o pirarucu é o maior peixe de água doce do mundo. Cultivado sem agrotóxicos, fertilizantes ou insumos sintéticos, chega ao mercado com carne 60% de rendimento e peso de 10 a 12 kg em apenas um ano.
A força da mobilização e articulação institucional
As discussões começaram em 2015 por meio da Asproc, de Carauari, e se intensificaram a partir de 2018 com uma moção do Coletivo do Pirarucu. Desde então, houve articulação técnica e política envolvendo CPOrg-AM, OPAN, REMA, OPAC Maniva, MMA, MAPA e MPA.
A aprovação da nova Instrução Normativa nº 17 amplia a certificação orgânica para produtos de origem animal, e deve ser oficializada por portaria interministerial na Semana do Meio Ambiente de 2025.
Dados de produção e impacto socioambiental
- Em 2023, o Amazonas produziu 13,6 t de pirarucu de manejo sustentável, segundo o Idam.
- Em Mamirauá (Tefé), foram 14.983 peixes manejados em 2023.
- Manejo sustentável alia reprodução comunitária, monitoramento ecossistêmico e conservação da fauna.
Valorização econômica e acesso a novos mercados
Para Embrapa, a certificação orgânica agrega prestígio ao pirarucu, aumentando seu valor no mercado. Setores como alimentação institucional, restaurantes e consumidores conscientes valorizam produtos sustentáveis.
Como explica Karen Alves (Idam), “é o reconhecimento das práticas que garantem a preservação da espécie e dos ecossistemas… agregações de valor e condições justas de comercialização”. Bruna De Vita (MMA) reforça: “todo processo de certificação traz diferenciação e valorização do produto”.
Manejo e certificação: união de saberes tradicionais e SPG
O manejo do pirarucu combina conhecimento tradicional e técnico-científico, com monitoramento por contagem comunitária e regras de pesca controlada. O SPG (Sistema Participativo de Garantia) via OPAC Maniva garantirá conformidade orgânica.
Próximos passos e consolidação normativa
Após aprovação da nova norma, o foco é definir procedimentos operacionais com CPOrg-AM, OPAC Maniva, REMA, MAPA e Coletivo do Pirarucu. Espera-se que o pirarucu seja o primeiro produto animal extrativista com selo orgânico.
A medida representa um marco para a bioeconomia da Amazônia, promovendo renda, conservação e autonomização de comunidades tradicionais por meio de práticas sustentáveis.