Cachoeira do rio Jatapu no Amazonas. Foto: Divulgação Inpa - TechAmazonia

Após 35 anos da construção das Usinas Hidrelétricas (UHEs) de Balbina e Pitinga, em Presidente Figueiredo (AM), os peixes endêmicos que habitavam a região desapareceram. A conclusão é de um estudo financiado pela Fapeam e coordenado por Lúcia Rapp Py-Daniel (Inpa/MCTI) e Douglas Bastos (Fapeam), em parceria com a UEA e a UFPA.

Extinção local de espécies

O projeto “Peixes reofílicos do rio Uatumã” avaliou a presença de sete espécies endêmicas descritas antes da construção das UHEs. Os primeiros resultados indicaram que essas espécies não foram mais encontradas na área afetada pelas barragens.

Bastos explica que os peixes reofílicos, adaptados a águas rápidas, eram conhecidos apenas por registros de coletas anteriores. A pesquisa agora busca essas espécies em afluentes do rio Uatumã que não sofreram impactos, como os rios Abacate e Jatapu.

Expedição revela impacto ambiental

Em novembro de 2023, a equipe realizou uma expedição no rio Uatumã, abaixo da UHE Balbina. Após cinco dias de trabalho, foram coletados 945 exemplares, mas as espécies-alvo não foram encontradas. O desaparecimento do Badi (Mylesinus schomburgkii), um peixe reofílico antes abundante, confirma os efeitos negativos da barragem.

“A mudança de um ambiente de correnteza para um lago teve um impacto severo na biodiversidade”, alerta Py-Daniel.

Buscas em afluentes preservados

Para tentar localizar as espécies, o estudo expandiu as coletas para rios não impactados. Em outubro de 2024, a equipe explorou o rio Abacate, mas não encontrou espécies-alvo. No segundo semestre de 2024, uma nova expedição ao rio Jatapu revelou um ambiente saudável e rico em biodiversidade.

No Jatapu, foram recapturadas duas espécies ameaçadas: o sarapó (Apteronorus lindalvae) e o bodó (Harttia uatumensis). Segundo os pesquisadores, esses achados indicam que as populações podem sobreviver em afluentes intactos.

Novas espécies e conservação

Além de confirmar a sobrevivência de algumas espécies, as expedições descobriram novas espécies. Foram identificadas entre 10 e 15 espécies potencialmente novas, além de registros inéditos para a bacia do Uatumã.

“Precisamos continuar as pesquisas para embasar planos de conservação junto a órgãos como Ibama e ICMBio“, ressalta Py-Daniel.

A equipe produziu um vídeo com imagens da expedição. Clique aqui para assistir!

Pesquisadores responsáveis

Lúcia Rapp Py-Daniel, Douglas Bastos, Leandro Sousa, Jansen Zuanon, Marcelo Rocha, Valéria Machado, William Ohara, Valdenor Magalhães, Diana Kohler, Lucas Gama e Thiago Bueno.

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