O livro A Mata, as Ervas e o Axé, organizado pela professora Luiza Flores, apresenta uma nova perspectiva sobre a presença negra na Amazônia. Publicada pela Editora da Universidade Federal do Amazonas (Edua/Ufam), a obra será lançada no dia 21 de março, no Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social (PPGAS).
O projeto reúne textos de pesquisadores de diferentes níveis acadêmicos e resulta de uma série de atividades, como oficinas de contracartografia, produção de podcasts e um documentário de 34 minutos chamado O Cuidado é Ancestral. As ações contaram com a participação de lideranças afro-religiosas de Manaus e Iranduba e foram financiadas pelo programa Humanitas, da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (Fapeam).
A equipe do projeto é composta por nove pesquisadores, entre eles Damiana Bregalda, Elton Ibrahin de Vasconcelos Pantoja e Sthefanne Auzier de Freitas. O livro é um dos resultados do projeto que também deu origem ao podcast “A mata, as ervas e o axé: Sabença de Terreiros” e ao vídeo-documentário “O cuidado é ancestral”, disponível em breve no perfil oficial do projeto no Instagram @amataaservaseoaxe.
Contracartografia como prática de resistência
A obra é fruto do projeto de pesquisa A Mata, as Ervas e o Axé: Sabença de Terreiros, que busca desconstruir representações hegemônicas por meio da contracartografia. Oficinas realizadas em quatro terreiros mapearam as relações simbólicas, culturais e territoriais dessas comunidades.
A sobrecapa do livro funciona como um mapa artístico da cidade de Manaus. Em uma das páginas iniciais, um QR Code permite acesso direto aos podcasts relacionados. Segundo a professora Luiza Flores, o objetivo foi integrar diferentes linguagens, valorizando as experiências e saberes dos povos de terreiro.
“A comunidade de terreiro não está fora da universidade. Ela está aqui dentro, resistindo e contribuindo para o reconhecimento de saberes ancestrais como uma justa reparação histórica.” — Luiza Flores.
Arte e saberes tradicionais
O livro conta com ilustrações de Hadna Abreu, que participou das oficinas e retratou as lideranças dos terreiros parceiros. Cada ilustração funciona como uma cartografia visual, reunindo elementos essenciais da cultura local, como plantas, animais, deidades e territórios sagrados.
Os terreiros participantes incluem o Ààfi n Ìyá Omi Àṣ ẹ Ọ̀ ṣun – Templo de Oxum, liderado por Alaomi de Lógun Ẹ̀dẹ; a Casa de Oração de Joana Gunça e Júlio Galego, sob liderança de Pai Willames e Mãe Rosa; entre outros espaços importantes para a tradição afro-religiosa na região.
Projeto amplia campo de estudos sobre religiões afro-amazônicas
O projeto também incentivou novos estudantes a pesquisar sobre religiões de matriz africana. Segundo a professora Luiza Flores, o objetivo é combater discursos que invisibilizam a presença negra na Amazônia e fortalecer a autonomia das comunidades tradicionais.
Além do livro e do documentário, o grupo Colar desenvolve ações de extensão, como a criação de uma cartilha de combate ao racismo religioso e o projeto Encontro de Saberes, que busca dar visibilidade a conhecimentos não-ocidentais dentro da universidade.
Próximos passos e lançamentos
O pré-lançamento do documentário foi realizado nos terreiros parceiros, onde as lideranças compartilharam reflexões e orientações. O lançamento oficial do livro e do documentário está previsto para acontecer na Ufam, com a presença das comunidades envolvidas.
Outro destaque é a parceria com ecólogos do INPA e da Ufam para estudar a relação dos povos de terreiro com as zonas de mata da cidade de Manaus, incluindo a APA Manaós e a reserva Adolpho Ducke.